É fato: todos os dias os noticiários exibem novos capítulos da disputa entre os três poderes da República. Nessa corrida de vaidades, a pergunta que ecoa é inevitável: quem manda mais?
O Supremo Tribunal Federal, segundo críticos e juristas, tem extrapolado suas funções, interferindo além do que prevê a Constituição. O Legislativo, por sua vez, parece mais preocupado em defender seus próprios privilégios do que em representar a sociedade que o elegeu. E o Executivo? Este, diariamente, se torna alvo de manchetes — ora criticado pela oposição, ora blindado por apoiadores que fingem não lembrar das promessas de campanha.
O jogo de “poder contra poder” se tornou a dinâmica permanente da política brasileira. O problema é que, em vez de equilíbrio e diálogo, o que prevalece é o choque, o confronto e, muitas vezes, a imposição. O poder deveria ter limites definidos pela razão e pelo interesse coletivo, mas, na prática, para muitos insensatos, ele parece ilimitado.
Sabemos que o poder assume diversas formas: político, econômico, social, cultural e até simbólico. No entanto, o que assistimos hoje é a disputa desenfreada por agendas próprias, onde a negociação cede espaço à imposição, e a autoridade perde legitimidade diante da descrença popular. Afinal, se legitimidade é o reconhecimento da sociedade e autoridade é a capacidade de governar, a questão que fica é: quem realmente obedece a quem neste país?
O resultado é uma democracia fragilizada. O povo, que só exerce seu poder de fato nas urnas a cada quatro anos, passa o restante do tempo de cabeça baixa, submetido às consequências das decisões tomadas por aqueles que deveriam representá-lo. Em tese, todos temos poder — seja individual ou coletivo. Mas, na prática, grande parte da população desconhece sua própria força ou a abandona por cansaço e descrença.
O Brasil vive hoje uma disputa entre poderes que mais parece uma queda de braços interminável. De um lado, instituições que brigam entre si. Do outro, cidadãos cada vez mais descrentes, cansados de promessas vazias e de um teatro político que insiste em se repetir.
E é aqui que o tom precisa ser crítico: enquanto os três poderes se digladiam pelo controle, o povo segue refém da desigualdade, da violência e da falta de esperança. O verdadeiro poder deveria estar na cidadania, mas foi sequestrado pelo jogo político. Resta perguntar: até quando aceitaremos ser espectadores de uma guerra em que o maior derrotado é sempre o povo?
Adriano Lourenço
